O autor contra ele

Se o Autor se encontra com o Autor
e um deles finge que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro pela mesma razão
finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para o autor o olhar do outro,
a voz do outro,
o corpo é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.

E se o outro é
como ele outro autor,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira reflete
o que o admira
num jogo multiplicado
em que a mentira
do autor ao autor
inventa o paraíso.

E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero o amor
que como ele é fingimento.
E fingem mais os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.

Assim amam-se agora se odiando.
O espelho embaciado,
já o autor em o autor não se mira:
se torturam se ferem
não se largam que o inferno do autor
é ver que o admiravam de mentira

1 comentários:

Nossa, que profundo!!!

Sem palavras!

besos

20 de janeiro de 2010 às 22:55  

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